SÓ O AMOR PODE SALVAR O MUNDO. POR QUE EU TERIA VERGONHA DE AMAR? – “Azul é a Cor Mais Quente” – Julie Maroh

Não é novidade que “Azul é a Cor Mais Quente” foi um sucesso popular, porém, exclusivamente por causa da sua versão cinematográfica. Logo após assistir o filme, lembro de ter lido o livro (mais especificamente: a história em quadrinhos). Hoje, após sete anos, o reli. Sinceramente, não sei o motivo de protelar tanto tempo para escrever uma resenha comentando sobre uma obra tão delicada.

A sutileza da escrita em convergência com a habilidade gráfica, faz do exemplar uma obra de arte. Julie Maroh apresenta ao leitor uma história leve e melancólica, uma história que simplesmente nos faz não querer parar de ler.

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O livro retrata a história de Clémentine, uma garota no auge da sua adolescência. Dentro do grupo de amigos, ela precisa se esforçar para receber a aceitação social, o que nunca foi uma grande dificuldade. Entretanto, a vida começa a adotar uma perspectiva diferente quando a jovem se força a sair com um garoto, meramente por um clichê da idade. No fundo, ela sentia que algo não estava certo, mesmo sabendo que aquela decisão era a “correta” e que ela precisaria passar por aquilo. A partir desse contexto, nossa narradora se vê ponderando uma mistura de sentimentos juvenis: até que ponto pode-se ignorar o nosso desejo mais profundo só para agradar a sociedade?

Em meio a toda essa confusão, quase como um vulto ou uma luz no fim do túnel, surge a mulher do cabelo azul: Emma. Confiante e cheia de si, Emma representa a mais pura intensidade. Intensidade esta que Clémentine cobiça e ao mesmo tempo se sente muito atraída. A mulher do cabelo azul é madura, soube o que fazer quando a mesma angústia de Clémentine a assombrou e, hoje, vive a sua vida tranquila, lutando por todos os seus ideais políticos e sem medo algum. Mesmo se relacionando com outra mulher, Emma corresponde o sentimento da adolescente e decide se aventurar em sua companhia. Juntas, enfrentam a angústia de não poder ser aquilo que simplesmente é; tanto por causa do preconceito da sociedade, mas também tentando esconder o sentimento dentro de si próprio. Porém, como qualquer adolescente, a menina começa a se apavorar com os possíveis comentários negativos que surgiriam caso ela optasse por, simplesmente, seguir o seu coração.

Clémentine, em suma, embarca em uma descoberta. Uma descoberta delicada, intensa e até mesmo erótica. Toda pessoa passa pela fase da descoberta e, talvez por isso, nos sentimos próximos dos conflitos internos da personagem. Norteada pela incerteza, têm-se o medo e a vontade. Primeiramente, o medo da crítica da sociedade, dos amigos, dos parentes e dos pais. Mas também, a vontade de viver um grande amor e de ouvir o coração pela primeira vez.

Em contra partida, para as pessoas que assistiram o filme e esperam que o livro seja idêntico, já aviso: não é. A versão cinematográfica nada mais é do que uma livre adaptação com pequenas convergências, mas quase tudo daquilo que assistimos no cinema toma um rumo diferente do livro. A obra literária se consome em si mesma, como um ciclo. Logo na primeira página ficamos sabendo que Clémentine faleceu e todo o relato é somente o desabafo angustiante dentro de um diário. A narração norteia a difícil adolescência da menina e todo o processo de amadurecimento e aceitação. Portanto, não se contentem com o filme, pois a leitura é extremamente válida!

Por fim, vale ressaltar que a lição mais importante de toda a obra é relembrar o fato de que o amor vai além de todo esse padrão de gênero que somos ensinados a pensar. Não é cogitar, problematizar, tentar esconder. O amor simplesmente é. O amor basta em si mesmo.

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Boa leitura!

-Bella

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